Músicas tristes contra dias tristes
![]() |
Cena do videoclipe de "Fake Plastic Trees", do Radiohead |
Os tempos andam difíceis. Para os que amam e para todos os outros. Ou quase todos, já que sempre há uma exceção aqui, outra ali. Mas nada está fácil, talvez seja exatamente o contrário. Basta não fechar os olhos para o que está acontecendo.
Tempos deprimentes, tristes. Se o noticiário sempre foi um motor capaz de mover pessoas para poços fundos, nos últimos anos ele passou a ser uma dose cavalar goela abaixo, mais amarga, dessas que derrubam elefantes ou foguetes. E não há a menor perspectiva para que o quadro ganhe novas cores.
Não consigo ficar inerte, a mente mergulha no vazio e tudo o que consigo fazer é passar o tempo tentando convencer a cabeça de que ela não pode parar. Sobra tanta falta, que nem consigo enumerar direito ou elencar por grau de importância. Talvez eu fale da pandemia. Só até este 14 de abril, a Covid-19 já levou 362 mil pessoas à morte no Brasil, e o descaso, o negacionismo e falta de cuidados continuam a ser a tônica por parte de quem deveria usar de sua posição para fazer mais, em especial por quem tem menos. Triste e letal.
Impossível ficar incólume diante de tanta coisa estranha e ruim. Impossível esboçar um sorriso que não seja forçado. Impossível não ver que a barrinha de energia está no pé, no vermelho, zerando. Mas ainda assim é preciso buscar uma melhor condição para poder reagir e tentar ser um elo na corrente do bem.
No meio de tantos espinhos, música. Sim, pois eu respiro um ar impregnado de notas musicais, de sons e ritmos, de melodias e arranjos que se propagam em ondas, me tocam e me transformam. São meu oásis neste árido chão de ruído. Se tarraxas do meu violão me impedem de dedilhar alguma coisa de forma harmoniosa, ainda posso recorrer a duas guitarras e um baixo, ainda há canções no computador e no celular.
Na escolha pelo que tocar, eu mesmo ou pelas fontes de som mecânico, percebi que aquilo que é mais triste mais me alivia. Tem algo ali que me ressignifica, que joga matéria sobre parte do vazio, que torna a paisagem menos rude e mais amigável.
![]() |
Quando eu tinha 16 anos foi quando pude perceber a beleza e a sofisticada simplicidade da obra do Pink Floyd. Aquilo que classificavam com down dava um up nos meus momentos. Mais tarde, o Radiohead me tomou de assalto.
Temas tristes parecem dar mais sentido à máxima de que menos com menos dá mais (-).(-)=(+). Assim, momentos melancólicos com canções tristes me deixam menos suscetível aos efeitos da tristeza, me deixam mais a fim de ser. É como se a textura das canções tocasse a alma com mais suavidade.
Hoje me dei conta disso. Ouvir músicas tristes durante momentos de tristeza me deixa menos triste. Fiquei feliz com a descoberta e por isso de alguma forma celebro agora ouvindo em sequência "Fake Plastic Trees" e "Nobody Home". Ah, se eu pudesse ser quem você procura... ...o tempo todo!
🎶 I've got wild staring eyes
ResponderExcluirI've got a strong urge to fly
But I've got nowhere to fly to 🎶