Luau noctilucas: Paul nas madrugas Stereo Vale

Para quem não sabe, minha vida profissional começou cedo. Aos 13 anos e 11 meses eu já atendia aos telefonemas dos ouvintes na rádio Stereo Vale FM, de São José dos Campos, seguramente uma das maiores escolas que um adolescente poderia ter. Tive a sorte de trabalhar com muita gente boa, pessoas que me ensinaram sobre música, sobre rádio, sobre uma profissão. Mas isso tudo é pouco perto do que esses caras me mostraram sobre respeito humano, relações humanas, humanidades. Sou eternamente grato, eternamente.

E eu tentava aproveitar e retribuir tudo isso. Especialmente na minha primeira passagem pela emissora, entre 1989 e 1991, quando virei "operador de rádio" nas madrugadas Stereo Vale, aos 14 anos!!!, absorvi muita coisa boa, até nos momentos não tão bons assim.

Como a programação das madrugas era bem diferente da que rolava até as 2h, eu conheci muita coisa que os diurnos talvez tivessem menos canais para ter ideia do que era. Vale lembrar que nesta época não se tocava música "rápida" ou mais barulhentas na madrugada. Isso abria espaço para canções com uma abordagem diferente, entre o brega e o cult, que me mostraram a importância das melodias e deram dicas sobre o que eu deveria procurar dali pra frente em matéria de música.

Uma dessas composições foi "Uncle Albert/Admiral Halsey", do grande Paul McCartney. A sonoridade ali criada era de outro planeta para mim. Conhecia Paul de coisas como "Once Upon a Long Ago", "No More Lonely Nights", "My Brave Face", "Say, Say, Say" e beatlessongs como "Let it Be", "Yesterday", "We Can Work it All" e Hey Jude. Nada era sequer parecido com "Uncle Albert".

Vamos nos lembrar de que a música tem efeitos sonoros especiais, muda de ritmo (tem até uma parte em que o batera toca no contratempo, acho que não de propósito), o Paul faz várias vozes diferentes. Eu via aquilo como algo mais lúdico do que uma canção pop para FM, no alto dos meus 14 anos!!!

E como essa música me marcou! Ouvi-la me faz relembrar com carinho e nostalgia daquele estúdio no 15º andar do edifício Liberal Center, na Avenida Adhemar de Barros, nº 282, na Vila Ady Anna. Sinto o cheiro, a inflexão da luz, ouço o som saindo da mesa de som Collins (acho que era essa a marca), me lembro das roupas que usava, das espinhas que tinha na cara, do cabelo crescendo, da guria por quem eu morria de amores, dos colegas de rádio, dos meus irmãos novinhos, minha mãe em casa, meu pai trabalhando, eu estudando no João Cursino, começando a tocar instrumentos musicais, vivendo mil novidades. Meu Deus! Olha o poder da música!

Com tanto ecoando na cabeça, penso que realmente "Uncle Albert/Admiral Halsey" tem cara de noite, de madrugada, de luz musical pela escuridão ao descanso do sol. E é por isso que falo dela neste primeiro post do luau, por ser uma música que pra mim é pura noite, cheia de luz, cheia de vida e ar fresco, mas pura noite.

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