Luka Britto 30 anos: Texto 2 – Sintonizado na ‘Primeira FM’
Luka Britto 30 anos
Texto 2 – Sintonizado na ‘Primeira FM’
A amizade se é que posso chamar assim, com o pessoal da Stereo Vale FM abriu um canal para que o guri de 12 anos pudesse saber mais sobre música. O interesse pelo assunto também acabou me aproximando de outros moleques que gostavam daquilo, mesmo que fossem adeptos de outros gêneros. Na verdade, até então o Luquinhas nem sabia do que gostava. A vitrola tinha de Lobão a Pet Shop Boys, de Billy Joel a Jane Duboc, de Kid Abelha a Paul McCartney. E eu não dispensava nem mesmo Fafá de Belém, Glenn Medeiros, Tiffany, Wando, Bruce Hornsby ou Bananarama.
Esse gosto pela programação de FM foi a tônica durante algum período. Foi nessa época que os dias passaram a ter boas muitas horas ao lado do aparelho de som (agora já um CCE com “double deck”, que permitia gravar de fita para fita e fazer experiências de gravação que eram verdadeiros achados, fora a possibilidade de “cantar” ou brincar de locutor em meio às gravações), sempre de ouvido ligado para identificar novas músicas ou perguntar para quem conhecia.
Só um adendo: o F-1010 da Philips, que eu mencionei no primeiro texto, havia sido furtado de dentro do carro do meu pai, em frente ao local onde ele estudava à época, isso no começo de 1988. O equipamento estava no veículo porque meu velho havia retirado naquele dia da assistência técnica, após um problema com o gravador de fita cassete.
O fato é que o sr. Milton comprou aquele novo 3 em 1, com duplo deck e “equalizador gráfico” psicodélico – luzes que piscavam conforme a batida da música, com reflexo em um espelhinho a 45 graus – que eu tinha como companheiro durante boa parte do dia. Só desligava para dormir e ligava logo que acordava. Com ele descobri muitas músicas novas e tive muitas experiências incríveis.
Eu me lembro até hoje daquela tarde de sábado, quando minha mãe arrumava a casa e eu ouvia a programação da Stereo Vale. Foi a primeira vez que ouvi “Stairway to Heaven”, que achei “muito louca”, diferente em seus longevos 8 minutos, mas ainda via (ou ouvia) como distante entre as minhas predileções. Mal sabia eu que em menos de um ano a banda se tornaria uma referência musical sem precedentes e que deixaria marcas em todas as etapas da minha vida a partir de então.
Durante todo o ano de 1988 eu ainda fui muitas vezes à Stereo Vale, me tornei camarada da galera, passei a conversar não apenas com locutores, como o Waguinho, Elói Moreno, João Luís e outros, mas também com funcionários de setores diversos, entre eles o Rogério “Formigão”. Foi ele quem depois chegou a me emprestar uma puta bateria maravilhosa, cheia de peças e todas enormes, feitos sob encomenda (fiquei com o instrumento em casa por longos meses a partir de 1990.
Nessa época eu já tinha deixado de querer ser batera e tinha começado a tocar baixo. Mas quem já se sentou pra tocar uma bateria sabe a energia que o instrumento tem, o quanto aquilo te renova, te faz sentir-se mais vivo. Foi um brinquedinho e tanto. Sou eternamente grato ao Formigão.
Eu ganhei muitos brindes ao longo de 1988, já que passava boa parte dos meus dias sintonizado e ligando para o 22-4000 (isso é um número de telefone, para quem não sabe). Foram muitos ingressos para o cinema, camisetas, LPs, adesivos, convites para casas noturnas, para as quais eu nunca fui, já que tinha 12 para 13 anos, entre outros “prêmios” da rádio.
Nos papos com os locutores, um dia o João Luís me apresentou o disco “The Lamb Lies Down on Broadway”, do Genesis. Na verdade, ele falou sobre a banda e me falou para levar uma fita cassete, que então ele gravaria para mim. Levei a Basf 90 minutos e me apaixonei pelo som, em especial por “In the Cage”. A influência foi tanta, que um dos inspiradores do nome do meu filho, Gabriel, é justamente o Peter Gabriel, cantor da banda (os outros são a minha avó Gabriela, o Gabriel García Márquez e o Gabriel Batistuta).
Os papos eram muitos naquela rádio, e eu me sentia quase da turma, apesar da minha timidez. Nesta época eu era um bocado fechado, não interagia tanto, ficava mais em silêncio e observando tudo do que me expressando por palavras. Acreditem: eu era quieto, pelo menos quando eu não estava entre os amigos mais próximos. Qualquer “pessoa diferente” e eu travava.
Apesar disso, especialmente com o Formigão e a Elaine, que era secretária/telefonista da emissora, eu acabava me abrindo. Foi em um desses blá blá blás que a Ana Lúcia acabou me notando, ou já tinha notado e imaginou que eu pudesse ser útil algum dia. Acho que ela era gerente da rádio, sei lá, e foi a responsável direta pelo profissional que me tornei. Por uma dessas coincidências do destino, fui reencontrá-la 25 anos depois, nós dois como funcionários do Grupo Globo, ela em Sampa e eu no G1 em Brasília.
Voltando ao tempo em que comecei a trabalhar, em uma das minhas visitas ao 15º andar do edifício Liberal Center, já em 1989, ela me chamou no corredor da emissora e pediu meu telefone. Seria o contato inicial para a minha contratação como funcionário da Stereo Vale. Mas isso aí já é outro capítulo da história do Luka Britto.
Voltando ao tempo em que comecei a trabalhar, em uma das minhas visitas ao 15º andar do edifício Liberal Center, já em 1989, ela me chamou no corredor da emissora e pediu meu telefone. Seria o contato inicial para a minha contratação como funcionário da Stereo Vale. Mas isso aí já é outro capítulo da história do Luka Britto.
Ah!! Esse CCE duble deck era mesmo demais! Não o seu, o meu. Mas eram bem parecidos!
ResponderExcluirPassei horas deitada no chão ao lado das caixas ouvindo de Mutantes a Julio Iglesias, com muito Samba e Bossa Nova no caminho! Rsrs