Luka Britto 30 anos: Texto 4 – A 8ª Série A

Luka Britto 30 anos

Texto 4 – A 8ª Série A

Voltar a estudar com o André Yuki foi uma coisa que comemorei muito. Mais velho do que eu quase dois anos, ele me conhecia desde a 2ª série, quando ainda estudávamos no trailer da Rua Viçosa, na escola que já se chamava Ayr Picanço Barbosa de Almeida. Eu me lembro dele com aquele “cabelo beatle”, agasalho do colégio Monteiro Lobato, bem mais alto do que quase todos nós e que andava de um jeito que eu considerava desengonçado. Um grande amigo! É até hoje e será para sempre.

Nos dois anos anteriores a 1989 eu havia tentado mudar de turma para poder estudar com ele, mas não tinha vaga disponível. No último ano do “ginásio”, as coisas deram certo. E agora eu tinha dois amigos japas na mesma galera: ele e o Márcio Shiotani, o Jacaré. Acabou que viramos uma “turma”, ao lado de gente como o Fabio e o Júlio.

Talvez por ser o último ano naquela escola, já que não havia o “colegial” ainda na instituição (o atual ensino médio), o clima era diferente, especial. A turma não era a mesma de anos anteriores, embora eu conhecesse a maior parte deles, até porque morávamos todos no Bosque dos Eucaliptos ou no Jardim Satélite, vimos o bairro crescer, muitos dos pais eram conhecidos, os tempos eram outros. Quase todos os professores eram conhecidos também, incluindo o João Evangelista de Oliveira (Jeo), de Português, e a Maria Célia, de Matemática e Ciências (na 8ª série ela lecionou só Ciências para nós).

Uma curiosidade sobre a qual tenho um certo orgulho: eu havia sido o primeiro aluno a tirar “A” na história docente do Jeo, isso na 5ª série, em 1986. O detalhe foi que quando ele anunciou que um único aluno havia tirado a nota, eu comecei a dizer que deveria ser uma daquelas meninas que sempre tinham o melhor desempenho. Quando ele falou o meu nome, eu fiquei vermelho e a primeira sensação, antes daquela satisfação por ter ido bem na prova, foi a de vergonha – até porque a sala não deixou de me zoar.

Voltando a 1989, eu gostei tanto de toda a trajetória naquele último ano no Ayr Picanço, que até algum tempo atrás eu sabia o número de todos os alunos na lista de chamada, que na época começava com os meninos. Ainda lembro muitos (posso errar um ou outro, mas tenho certeza de que a maioria era isso mesmo: 1. Alexandre (Mosquito), 2. André Yuki, 3. Carlão, 4. Carlos Ricardo, 5. Claudinho, 6. Douglas, 7. Fabiano, 8. Fabio, 9. Júlio, 10. Luquinha, 11. Márcio Shiotani, 12. Márcio Zara, 13. Sandro, 14......, 15. Adriana (que nunca foi à escola), 16. Adriana Castro, 17. Adriana Volpi, 18. Ana Cely, 19. Anália, 20 Andréa, 21. Denise, 22. Fabiana Claire, 23. Fabiana Giacomini, 24. Isao Shu Ling, 25. Larissa, 26. Lilian, 27. Maria Joseane, 28. Maria Luciana, 29. Marisa, 30. Selma, 31. Rogério, 32. Ricardo (Queen Dick).

Pra vocês terem uma ideia de como era a coisa, a gente chegava a levar aparelhos de som (às vezes com toca-discos até) para ouvir música entre uma aula e outra. Começamos com um gravador Gradiente, mas depois o Fabio passou a levar uma caixa de som, enquanto eu carregava o CCE. Claro que um dia houve uma inspetora de alunos que impediu a gente de entrar com aquilo. Mas até aquele momento a gente se divertiu muito.

As aulas prosseguiram normalmente naquele primeiro semestre. Minha preocupação maior era ouvir mais e mais música, conhecer mais sobre a arte, quiçá me envolver diretamente com som, na rádio ou como criador de canções.

Até ali eu tinha duas “histórias” com composição e criação musical. Já havia feito “instrumentos” com material de construção, linha de nylon, fitas adesivas e carretel de linha, brincava com meu primo Cláudio (isso com meus 9 anos) ou com vizinhos, imaginava músicas com letras e até solos! Em 1988 eu e o Yuki fizemos algumas musiquinhas, entre elas “Star”, que tinha letra e melodia. O teor das letras não era lá grande coisa, mas era o que a gente conseguia. Bobeiras, mas que ficaram marcadas pra sempre na minha mente.

Em 1989, a intenção era “crescer” nesse segmento, começar a fazer música de verdade, comprar um instrumento, fazer som! Quase que naturalmente a coisa foi se desenhando. Eu ainda não sabia bem o que queria tocar, nem pelo estilo de som, nem pelo instrumento, mas queria ser músico, queria criar músicas, gravar um disco, fazer sucesso.

Minha “grande referência” musical até então havia sido o Lobão (sim, ele já fez coisas muito boas antes de perder a noção de tudo). Meu primeiro LP comprado foi o “Vida Bandida”, adquirido em Aparecida durante uma ida à Basílica de Nossa Senhora, com a família, em 1988 – eu até poderia contar como primeiro disco o LP “Animais”, da Turma do Patati Patatá, que eu ganhei dos meus pais quando eu era criança, vinil azul, músicas legais, mas aquele bolachão colorido não foi um pedido meu, algo que quisesse conscientemente.

Em 1988, aliás, eu acabei comprando outros discos do Lobão, entre eles “O Rock Errou”, que adquiri na véspera de Natal, “Ronaldo foi pra Guerra” e o lançamento do ano, “Cuidado”. Era um artista de quem eu gostava, queria conhecer tudo, mas ainda assim não tinha dado aquele estalo.

Isso iria acontecer justamente em 1989, quando uma banda de sucesso foi tocar no Tênis Clube de São José. A Stereo Vale estava fazendo a cobertura do evento, mostrando um pouco das músicas “ao vivo” e comentando repertório, clima do show e outras coisas naquela noite.

Depois descobri que os trechos das músicas que apareciam “ao vivo” na verdade haviam sido gravados de outra apresentação. Só que naquele momento, no “calor” da transmissão, eu estava ali prestando atenção, anotando os nomes das músicas, tentando identificar canções que eu porventura já conhecesse. Foi fácil memorizar parte daquelas duas ou três dezenas de faixas.

No dia seguinte, quando eu cheguei à sala de aula, um dos camaradas de classe chegou dizendo que havia ido ao show. Era o Sandro Helbe Meneguelo, que estudava comigo desde a 6ª série e que depois chegou a pegar escondido a guitarra verde do irmão para emprestar para os Titões. Mas aí já é outro capítulo, talvez um dos mais determinantes da história do Luka Britto, que conto mais tarde.

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