Luka Britto 30 anos: Texto 5 – O show e as consequências

Luka Britto 30 anos
Texto 5 –  O show e as consequências

Os Titões no palco, na formatura da 8ª série, em dezembro de 1989;
foto cedido gentilmente pela minha irmãzinha Fabiana Cipolaro

Eu tinha o costume de ouvir rádio sempre ao me deitar para dormir. Embora eu estivesse numa vibe de escutar a Transamérica naquele começo de 1989, as noites costumavam ser ao som da Stereo Vale mesmo, especialmente por causa do Arquivo 1-0-3-9, com seus flashbacks, músicas que eu ia conhecendo ou redescobrindo. Mas houve uma noite, em especial, em que a programação foi diferente.

A cada bloco, algum locutor da rádio (acho que o Elói Moreno) era chamado para falar sobre o show que ocorria naquela noite. Eram os Titãs, que se apresentavam no Tênis Clube de São José. O espetáculo era da turnê do “Go Back”, que tinha basicamente as músicas a partir do disco “Cabeça Dinossauro”.

Como a sequência do repertório era quase sempre a mesma durante toda a turnê, o pessoal sabia a ordem das músicas e ia anunciando enquanto tocava trechos do show no meio do Arquivo 1-0-3-9. Eu achava que aquilo era ao vivo, mas soube depois que na verdade era uma apresentação gravada pela galera da Rádio Cidade (que era da mesma “rede” que a Stereo Vale, ambas propriedades do meu futuro primeiro patrão, o sr. Décio Matos).

Curioso como sempre, fui ouvindo a transmissão e guardando na cabeça a lista de canções, tentando puxar na memória uma faixa ou outra que eu pudesse já conhecer. Naquele momento, até a ordem das músicas eu havia decorado e notei que já conhecia nomes como “Cabeça Dinossauro”, “AAUU”, “Polícia”, “Família”, “Desordem”, “Comida” e “Lugar Nenhum”.

Eu nunca tinha ido a um show, então não me senti triste ou decepcionado por não ter estado no ginásio naquela oportunidade. Mas fiquei com a ideia do evento na cabeça. “Deve ter sido muito louco”, eu devo ter pensado.

Acho que aquilo foi em uma quinta-feira, também não me recordo do mês. Algo me diz que foi em abril, talvez março. Nunca vou saber o momento exato. No dia seguinte, provavelmente eu tenha jogado futebol de salão (hoje chamam de futsal) ou futebol de botão pela manhã, talvez tenha visto o Clip Trip, depois almocei e fui para o Ayr Picanço.

Antes do professor entrar em sala, na tradicional conversa entre colegas, ouvi o Sandro dizer que havia ido ao show dos Titãs na noite anterior. Eu já entrei no papo e fui falando sobre a disposição das músicas, o que rolou no bis e outros detalhes. “Puxa, você sabe mais do que eu, que estava lá”, disse ele.

Tão importante quanto tudo isso, foi o fato de o Fabinho ter dito que tinha dois LPs dos Titãs em casa: “Cabeça Dinossauro” e “Go Back”. Peguei emprestados, consegui o “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” com a Adriana Volpe e passei as semanas seguintes devorando o conteúdo dos discos. Ouvi tanto, que cheguei a riscar, literalmente, a faixa “Bichos Escrotos” do “Go Back”.

Em uma dessas coincidências da vida, a Transamérica exibiu o “Estúdio Ao Vivo” com os Titãs exatamente naquele período. Foram audições e mais audições, dos discos e do programa da rádio, novas músicas sendo conhecidas, lembranças dos primeiros trabalhos deles vindo à mente e a vontade de ter uma banda como a dos caras foi só crescendo.

Naquele ano a turma vinha “ensaiando” a criação de historinhas, sátiras de filmes, piadinhas e coisastípicas de moleques entre 13 e 16 anos. Numa delas, inventamos uma paródia do filme “Top Gun”, com menções, digamos, “salientes”. Coisa natural para uma molecada com os hormônios em ebulição.

Eu já tinha criado músicas anteriormente (mesmo sem saber tocar), e uma das minhas diversões era fazer versões para letras de canções conhecidas. Foi aí que o clima de saliência se juntou com a vontade de compor e fiz paródias “besteirentas” para todas as músicas dos Titãs dos discos “Cabeça”, “Jesus” e “Go Back”. Perdão, mas não posso reproduzir aqui nem mesmo os títulos das faixas.

O passo seguinte foi “criar” uma banda para cantar aquilo. Seria uma espécie de “Titãs Bizarros”, com nome estranho e formação com o octeto como referência, no número de integrantes aos nomes. A coisa mexeu tanto com meu lado criativo, que quis compor músicas com “letras sérias”, e o André Yuki propôs fazer discos de papelão (com o bolachão, selo da gravadora, encarte, ficha técnica e tudo mais). Nascia ali a banda “Titões”! Mas aí já é outro capítulo da história do Luka Britto.

Comentários

  1. Tempos bons aqueles da escola, na adolescência. Eu e minha melhor amiga cantávamos as músicas do Titãs, uma fazendo o show para a outra, além de outros, como Legião Urbana e Engenheiros do Hawaí. Mas na escola segui o teatro, que também me proporcionou muitas realizações e crescimento. Essas lembranças nos impulsionam a realizações mais concretas agora. A vida continua muito divertida!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Luau noctilucas: Skank no céu em arranjos inusitados

Pensamento à toa sob a luz da lua

Músicas tristes contra dias tristes