Luka Britto 30 anos: Texto 7 – Luka Britto, o Luquinha da Stereo Vale
Luka Britto 30 anos
Texto 7 – Luka Britto, o Luquinha da Stereo Vale
Como eu falei anteriormente, o Luquinha adorava ir até o 15º andar do edifício Liberal Center, na Vila Addy Anna, para conversar com o pessoal da Stereo Vale. De tanto participar de programas, ir à emissora, falar de música, mencionar o quanto eu gostava da arte e da rádio, uma pessoa em especial prestou a atenção naquele guri. Eu tinha 13 anos, mas alguém achou que eu tinha condições de assumir a bronca, e eu acho que acabei mandando bem.
Engraçado que foi em um período quando eu dividia a audiência da Stereo Vale com a da Transamérica que acabei sendo chamado para trabalhar atendendo os ouvintes da rádio do interior. Era uma tarde qualquer em que eu devia ter ido à Stereo Vale para buscar um brinde e fiquei de papo com o Formigão.
Em um determinado momento, a Ana Lúcia Braga passou por mim e me cumprimentou. Imagina uma mulher linda daquela prestando a atenção em você, seja por qual motivo for. Mais adiante, ela puxou papo. Perguntou se eu gostava da rádio, se eu gostava de música, já que ela me via por lá com uma certa frequência. Depois de uma breve conversa, a Ana falou que era legal eu gostar tanto assim de tudo aquilo e que, quem sabe, futuramente eu até poderia trabalhar lá. Em seguida, ela me pediu o telefone, e eu passei.
Isso provavelmente foi no meio para o fim de maio. Não demorou muito, acho que foi questão de dias, para que eu recebesse um telefonema. Eu não estava em casa, mas sim jogando futebol na Área Verde. Naquele dia, não tivemos aulas após o intervalo e aproveitamos para correr atrás de uma bolinha.
Por algum motivo que eu nunca vou saber, voltei para casa mais cedo do que o costume. Estava deixando a avenida Ouro Fino e entrando na rua São João del Rey quando dei de cara com a minha mãe. Ela me avisou que a Ana, da Stereo Vale, havia ligado e pediu para retornar caso eu chegasse antes das 17h. Foi o que fiz.
Eu fiquei um tempo esperando na linha até que a Elaine, telefonista da rádio, transferisse para a Ana. Quando ela pegou a ligação, me cumprimentou e fez a pergunta que mudou a minha vida: “E aí, vamos trabalhar na Stereo Vale?” Impossível esquecer a emoção daquele momento, a inflexão de luz na sala de casa, a voz daquela mulher entrando na alma para purificar tudo o que porventura fosse necessário.
Ela perguntou se eu poderia ir ainda naquela tarde para a rádio. Eu nem tomei banho, coloquei uma calça, troquei de camiseta e fui. Cheguei lá, esperei um tempo e fui falar com a Ana, a Elaine, o Formigão e também com o locutor Wagner Rocha.
Fiz um teste ao telefone (atendi meus primeiros ouvintes), respondi a algumas perguntas e vi o “esporrofone” tocar (era um telefone “linha direta” entre o coordenador da rádio, Paulo Ramalho, e quem estivesse no estúdio). Eu atendi, o futuro chefe fez alguma brincadeira, como se estivesse me dando bronca, e depois falou com mais alguém ali.
A Ana me pediu para retornar na manhã seguinte e procurar pelo Elói Moreno. Ele me aplicaria um teste por escrito. Eu me lembro de que precisei corrigir a grafia de umas músicas e de elaborar um “Sucesso em FM”, programa com as mais pedidas do dia.
Naquela época, algumas das músicas de maior sucesso eram “Girl, You Know It’s True”, do Milli Vanilli, “Lua e Flor”, do Oswaldo Montenegro, “I Beg Your Pardon”, do Konkan, “Bem Que se Quis”, da Marisa Monte, “Like a Prayer”, da Madonna, e “Lá Vem o Sol”, do Lulu Santos. Claro que incluí “Marvin”, dos Titãs, na lista, até porque era mesmo um dos “hits do momento”.
Passei no teste e numa sexta-feira de tempo bom, mais fria pela manhã, esquentando à medida em que a tarde foi se aproximando, comecei a atender o 22-4000. Era 2 de junho de 1989, eu ainda não tinha completado 14 anos (faltava uma semana). Cheguei na rádio às 6h39, o locutor que estava no ar era o Pedro Sani. Dali em diante tudo mudou na minha vida.
Foi na mesma época que eu comecei a estudar órgão, foi quando os Titões se consolidaram, foi quando Luka Britto passou a fazer parte da minha história, definitivamente. Com meu primeiro salário, comprei cinco LPs dos Titãs (“Titãs”, “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” e “Go Back”), todos no Jumbo Eletro, exceto o primeiro, adquirido numa loja da Rodoviária Velha de São José. Comprei um “Go Back” pro Fabinho também, já que eu havia riscado o disco dele.
Recebi os NCz$ 120 (cento e vinte cruzados novos) de “ordenado” das mãos do Formigão (no início do Plano Verão II do governo Sarney). Como eu ainda não tinha 14 anos quando comecei a trabalhar, só tive o registro como “auxiliar de escritório” na carteira profissional em 1º de julho, ou seja, com 14 anos e 21 dias. A grana do primeiro salário ainda deu para comprar um violão, que tenho até hoje, e uma rodada de hambúrgueres para uns cinco camaradas da escola e do bairro.
Em pouco tempo, o Luka Britto foi se transformando. Uma das coisas que passei a fazer foi raspar o cabelo do lado, copiando o estilo do Arnaldo Antunes. Foi muito divertido tudo aquilo. E muitas outras histórias foram surgindo. Ainda tem muito a falar, não tenho como mencionar tudo, mas ainda há um capítulo dessa história.
Texto 7 – Luka Britto, o Luquinha da Stereo Vale
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Luka Britto rock'n'roll auxiliando os locutores Wagner Rocha e Ricardo Vasconcelos no estúdio da rádio Stereo Vale FM (foto cedida gentilmente pelo Cardoso, dom Elói Moreno) |
Como eu falei anteriormente, o Luquinha adorava ir até o 15º andar do edifício Liberal Center, na Vila Addy Anna, para conversar com o pessoal da Stereo Vale. De tanto participar de programas, ir à emissora, falar de música, mencionar o quanto eu gostava da arte e da rádio, uma pessoa em especial prestou a atenção naquele guri. Eu tinha 13 anos, mas alguém achou que eu tinha condições de assumir a bronca, e eu acho que acabei mandando bem.
Engraçado que foi em um período quando eu dividia a audiência da Stereo Vale com a da Transamérica que acabei sendo chamado para trabalhar atendendo os ouvintes da rádio do interior. Era uma tarde qualquer em que eu devia ter ido à Stereo Vale para buscar um brinde e fiquei de papo com o Formigão.
Em um determinado momento, a Ana Lúcia Braga passou por mim e me cumprimentou. Imagina uma mulher linda daquela prestando a atenção em você, seja por qual motivo for. Mais adiante, ela puxou papo. Perguntou se eu gostava da rádio, se eu gostava de música, já que ela me via por lá com uma certa frequência. Depois de uma breve conversa, a Ana falou que era legal eu gostar tanto assim de tudo aquilo e que, quem sabe, futuramente eu até poderia trabalhar lá. Em seguida, ela me pediu o telefone, e eu passei.
Isso provavelmente foi no meio para o fim de maio. Não demorou muito, acho que foi questão de dias, para que eu recebesse um telefonema. Eu não estava em casa, mas sim jogando futebol na Área Verde. Naquele dia, não tivemos aulas após o intervalo e aproveitamos para correr atrás de uma bolinha.
Por algum motivo que eu nunca vou saber, voltei para casa mais cedo do que o costume. Estava deixando a avenida Ouro Fino e entrando na rua São João del Rey quando dei de cara com a minha mãe. Ela me avisou que a Ana, da Stereo Vale, havia ligado e pediu para retornar caso eu chegasse antes das 17h. Foi o que fiz.
Eu fiquei um tempo esperando na linha até que a Elaine, telefonista da rádio, transferisse para a Ana. Quando ela pegou a ligação, me cumprimentou e fez a pergunta que mudou a minha vida: “E aí, vamos trabalhar na Stereo Vale?” Impossível esquecer a emoção daquele momento, a inflexão de luz na sala de casa, a voz daquela mulher entrando na alma para purificar tudo o que porventura fosse necessário.
Ela perguntou se eu poderia ir ainda naquela tarde para a rádio. Eu nem tomei banho, coloquei uma calça, troquei de camiseta e fui. Cheguei lá, esperei um tempo e fui falar com a Ana, a Elaine, o Formigão e também com o locutor Wagner Rocha.
Fiz um teste ao telefone (atendi meus primeiros ouvintes), respondi a algumas perguntas e vi o “esporrofone” tocar (era um telefone “linha direta” entre o coordenador da rádio, Paulo Ramalho, e quem estivesse no estúdio). Eu atendi, o futuro chefe fez alguma brincadeira, como se estivesse me dando bronca, e depois falou com mais alguém ali.
A Ana me pediu para retornar na manhã seguinte e procurar pelo Elói Moreno. Ele me aplicaria um teste por escrito. Eu me lembro de que precisei corrigir a grafia de umas músicas e de elaborar um “Sucesso em FM”, programa com as mais pedidas do dia.
Naquela época, algumas das músicas de maior sucesso eram “Girl, You Know It’s True”, do Milli Vanilli, “Lua e Flor”, do Oswaldo Montenegro, “I Beg Your Pardon”, do Konkan, “Bem Que se Quis”, da Marisa Monte, “Like a Prayer”, da Madonna, e “Lá Vem o Sol”, do Lulu Santos. Claro que incluí “Marvin”, dos Titãs, na lista, até porque era mesmo um dos “hits do momento”.
Passei no teste e numa sexta-feira de tempo bom, mais fria pela manhã, esquentando à medida em que a tarde foi se aproximando, comecei a atender o 22-4000. Era 2 de junho de 1989, eu ainda não tinha completado 14 anos (faltava uma semana). Cheguei na rádio às 6h39, o locutor que estava no ar era o Pedro Sani. Dali em diante tudo mudou na minha vida.
Foi na mesma época que eu comecei a estudar órgão, foi quando os Titões se consolidaram, foi quando Luka Britto passou a fazer parte da minha história, definitivamente. Com meu primeiro salário, comprei cinco LPs dos Titãs (“Titãs”, “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” e “Go Back”), todos no Jumbo Eletro, exceto o primeiro, adquirido numa loja da Rodoviária Velha de São José. Comprei um “Go Back” pro Fabinho também, já que eu havia riscado o disco dele.
Recebi os NCz$ 120 (cento e vinte cruzados novos) de “ordenado” das mãos do Formigão (no início do Plano Verão II do governo Sarney). Como eu ainda não tinha 14 anos quando comecei a trabalhar, só tive o registro como “auxiliar de escritório” na carteira profissional em 1º de julho, ou seja, com 14 anos e 21 dias. A grana do primeiro salário ainda deu para comprar um violão, que tenho até hoje, e uma rodada de hambúrgueres para uns cinco camaradas da escola e do bairro.
Em pouco tempo, o Luka Britto foi se transformando. Uma das coisas que passei a fazer foi raspar o cabelo do lado, copiando o estilo do Arnaldo Antunes. Foi muito divertido tudo aquilo. E muitas outras histórias foram surgindo. Ainda tem muito a falar, não tenho como mencionar tudo, mas ainda há um capítulo dessa história.
Engraçado que existe algo dentro de nós que nos impulsiona de forma tão intensa que o que almejamos acaba acontecendo de maneira natural. Chega a parecer irreal, mas acontece. É a vida pulsando e nos direcionando para nossas vocações e realizações. Amei o texto!
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