Luka Britto 30 anos: Texto 8 – Luka Britto pra sempre

Luka Britto 30 anos

Texto 8 –  Luka Britto pra sempre

Hoje é raro que alguém me chame de Luka Britto. Tem o pessoal que era da rádio, com quem ainda mantenho contato, uma turma que me conheceu naquela época, muito deles ouvintes da rádio, e uma galera que achou engraçado o apelido e se acostumou a usá-lo para se referir a mim, como o ex-vizinho Thiagones Zé Diogo. Mesmo assim, o sentimento é de que o Luka é pra sempre, nunca vai morrer.

E há mil motivos para acreditar nisso. Um deles é que o nome surgiu em um momento ímpar da vida de qualquer pessoa. A adolescência é um período especial porque marca praticamente a entrada em um caminho sem volta, com as descobertas que a inocência da infância não permitia e sem os vícios e acomodações que a idade adulta priva.

Só de ter passado por tudo o que a puberdade e a fase seguinte proporcionam, já seria especial. Some a isso o fato de ter vivido a oportunidade de realizar sonhos, de conhecer gente que inspira, de estar em situações inéditas e que acabaram sendo únicas. Foi tudo maravilhoso. Não se apaga nunca, jamais.

E foi o Luka Britto de 30 anos atrás, em um 15 de dezembro de 1989, que pôde conhecer de perto os mesmos oito caras que o influenciaram e o fizeram adotar o apelido. Os Titãs tocaram no famoso Teatrão da Vila Industrial naquela noite, e desta vez eu estava lá. Já era a turnê do “Õ Blésq Blom”, que a banda havia lançado em outubro.

Aliás, isso merece um parágrafo. Quando o LP chegou à Stereo Vale, o João Luís Barbosa e outros colegas da emissora se aglomeraram na porta do estúdio onde eu atendia aos telefonemas dos ouvintes. Ele ficou levantando o LP e abaixando pela janela até que eu largasse o telefone e fosse ver, enquanto os outros riam. A emoção de pôr a mão naquele disco continua a se manifestar até hoje. Sim, a minha banda predileta estava lançando seu primeiro trabalho desde que virei fã.

Voltando ao show dos Titãs, eu cheguei a conversar com todos eles, levei minha coleção de discos junto com os "LPs" dos Titões, mas não peguei nenhum autógrafo (acho que fiquei tímido). Assisti ao show de um espaço atrás do palco.

Foi muito legal também, aliás, justamente por ter uma visão diferente dos caras, ouvir o som de outra forma (não fui para a galera também por timidez). Até aquele momento eu só havia visto quatro shows na minha vida: Ultraje a Rigor, Information Society, Roupa Nova e Cindy Lauper.

A partir dali comecei a ouvir mais e mais músicas e artistas diferentes, incluindo aqueles que não figuravam nas FMs. Em janeiro de 1990 eu comprei minha bateria, uma Taiko de sete peças, comprada na Playtech da Avenida Francisco José Longo. Em abril daquele ano eu já estava em uma banda, ao lado do Tarcísio, Dedé, Bené e Alexandre. Depois entraram Gilmar e Luciano. Éramos os "Fitis".

Toquei em outras tantas bandas, troquei a batera pelo baixo, depois vi o show do Black Crowes e parti para a guitarra (a apresentação no Hollywood Rock foi antes de Robert Plant e Jimmy Page, em 20 de janeiro de 1996, no Pacaembu. No dia 23 eu comprei uma Fender, a Verônica).

Na Stereo Vale, passei do telefone à operação da mesa de som. A primeira música que "toquei" foi "Heaven", do Bryan Adams. Naquele dia, eu estava no estúdio da rádio, na Adhemar de Barros, enquanto o locutor João Luís soltava a voz no antigo Pavilhão de Exposições do Parque Industrial, durante a "1a Feira de Tecnologia de São José dos Campos".

O João foi um dos caras que mais me ensinaram sobre o trabalho e a vida, e ainda me apresentou o Led Zeppelin. Foi o Led III, quando ele quis me mostrar que a introdução da música "Puss N' Boots", do Konkan, era  um trecho de "Immigrant Song", do Led.

A Stereo Vale, bem como as bandas, as escolas, os amigos, os amores, a família e todas as vivências e experiências foram absolutamente fundamentais para o Lucas que se formou depois, o Luka Britto, o Lucas Nanini, o Luquinha, todos os meus eus, em toda a minha vida nesses 44 anos completados neste 9 de junho.

Nestes oitos dias desde o 2 de junho (quando completei 30 anos do primeiro dia de trabalho na rádio), compartilhei com vocês um pouco daquele período, do que considero a pedra fundamental para o que veio a ser o músico e jornalista, e também o humano, pai, filho, amigo, colega, amante etc.

Agradeço a todos pela atenção e carinho, por tudo o que já viveram ao meu lado, me ensinaram e dividiram comigo. São 30 anos do Luka Britto, 44 anos do Lucas. Espero estar aqui por muito mais tempo, poder viver mais 30 de atividade criativa, mais 44 anos de vida com o corpo e a alma cheios de plenitude. Se tudo der certo, em 2049 eu venho aqui escrever sobre os 60 anos do Luka Britto. Tenho certeza de que serei um velho homem com o mesmo espírito de guri. Até porque os sonhos não envelhecem, como já dizia a canção. Canção, que é o que me moveu em 1989, me move em 2019 e vai me mover pra sempre.

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